segunda-feira, 17 de maio de 2010

O ESPÍRITO SANTO

No próximo dia 23 de Maio, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes, com a qual encerra o Tempo Pascal. O Espírito Santo, dom do Senhor Jesus Ressuscitado, continua a ser “o grande desconhecido da Igreja”. Por isso, deixamos aos nossos leitores esta reflexão sobre a Pessoa do Espírito Santo e os seus dons.
O Espírito Santo é Deus, como o Pai e o Filho. O Espírito está presente desde o princípio e na origem da criação (Gn 1, 2 e 2, 7) e aparece continuamente na história do Povo de Deus, manifestando-se de diferentes maneiras a diversos homens e mulheres. Estes tiveram a sensibilidade para O perceberem e deixarem-se seduzir por Ele, desde reis e profetas a pobres pecadores sem estudos.
Nesta reflexão sobre o Espírito Santo, propomos apenas algumas pistas e vários textos bíblicos para que o leitor possa ter a oportunidade de sentir a sua brisa e o seu calor, porque é sopro e fogo que vem a nós no Pentecostes. Os textos que sugerimos são do Novo Testamento, pois nos parecem apropriados para penetrar e viver este tempo do Espírito. No Novo Testamento, fala-se frequentemente do Espírito Santo. Também é chamado “Espírito de Deus”, “do vosso Pai”, “de Jesus”, “de Verdade”, “de vida”, o “Consolador”, entre outros nomes. Alguns exprimem claramente que Ele procede do Pai e do Filho. Além disso, é representado, na sua actuação, com os símbolos da pomba, do vento, do fogo, da água, do selo que marca…
A utilização desta simbologia não deve fazer-nos esquecer de que o Espírito é uma Pessoa e de que, na Bíblia, lhe são atribuídas faculdades próprias dos seres humanos: tem inteligência (Rm 8, 27); vontade (1 Cor 12, 11); sentimentos (Ef 4, 30 e Rm 8, 27); revela-se (2 Pe 1, 21); ensina (Jo 14, 26); dá testemunho (Gl 4, 6); intercede (Rm 8, 26); fala (Ap 2, 7); ordena (Act 16, 6-7); podemos contristá-l’O (Ef 4, 30); mentir-Lhe (Act 5, 3) e até falar contra Ele (Mt 12, 31-32).
O Espírito Santo é o sopro de Deus, o alento vital que transforma a nossa realidade, criando um coração novo no Povo de Deus, fortalecendo-o, animando-o interiormente, convertendo-o em testemunha da sua fé. Este Espírito manifesta-se, sobretudo, em Jesus, que depois no-l’O envia para que conheçamos a vontade de Deus e demos fruto.
Com o Pentecostes (Act 2, 1-11), a criação e o mundo inteiro recebem um novo impulso. Ao mesmo tempo, as comunidades cristãs tornam-se missionárias e lançam-se, sem temor, a anunciar a Boa-Nova a todos os povos. A Igreja nascente experimenta a acção do Espírito porque é purificada por Ele; o Espírito inspira-a, dá-lhe unidade e fortaleza, preside às decisões da Comunidade e edifica-a.

Os dons

Os dons vulgarmente atribuídos ao Espírito, não são exaustivos nem excludentes; resumem, porém, toda a acção que Ele realiza em nós. Todavia, acima de todos, há um dom que dá sentido a todos os outros: o dom do Amor. Não de qualquer tipo de amor, mas do que tem a sua expressão máxima na entrega da vida pelos irmãos. É este o maior dom do Espírito Santo. Sem ele, a nossa vida não tem sentido. O amor (ou a caridade) é a primeira acção de Deus: Ele criou o homem e o mundo por amor e, na plenitude dos tempos, Jesus Ressuscitado, por amor, salvou-nos da morte.

Os sete dons do Espírito Santo

Aprendemos, desde sempre, que os dons do Espírito Santo são sete. Mas este número tem um significado simbólico: plenitude, totalidade e perfeição. Os sete dons (tal como os sacramentos) pretendem resumir toda a acção do Espírito Santo nos cristãos. Constam do Livro de Isaías, da passagem em que o profeta refere as qualidades do futuro Messias:
“Sobre Ele repousará o Espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor. Não julgará pelas aparências, nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; mas julgará os pobres com justiça, e com equidade os humildes da terra...” (Is 11, 2-4a).

Sabemos que os dons do Espírito não são ofertas passivas, mas que exigem uma resposta, como o profeta o diz claramente. Portanto, quem for movido pelo Espírito Santo, deve actuar desse modo. Meditemos um pouco sobre o significado e o sentido dos mesmos:

Sabedoria: consiste em conhecer a Deus. Ser sábio, segundo o Espírito, é conhecer e experimentar o amor e a bondade de Deus, que pratica a justiça e nos torna capazes de sermos também justos. Isto não se aprende nem nos livros, nem nos cursos, mas através de uma vida pessoal e comunitária de oração.

Entendimento: é o dom que nos ajuda a descobrir qual é a vontade de Deus nas grandes e pequenas situações quotidianas.

Ciência: este dom dá-nos a capacidade de discernir, vendo o que é bom e o que é o melhor. Dá-nos a conhecer o projecto de Deus para cada dia. Faz-nos agir de acordo com os princípios e valores cristãos.

Conselho: por meio deste dom, podemos dialogar fraternalmente com as nossas famílias e em comunidade cristã. Podemos ajudar quem precisa, orientando e colaborando para encontrar as melhores soluções. Pelo conselho e pela palavra oportuna, devemos animar os desanimados, encorajando-os a não baixarem os braços e, também, podemos encarar a vida com optimismo.

Fortaleza: este dom ajuda-nos a enfrentar as dificuldades e problemas, que, às vezes, parecem asfixiar-nos e impedir-nos o caminho, com coragem e energia. Ajuda-nos a vencer as tentações de abandonar Jesus e enveredar por um caminho mais fácil. Leva-nos a dar provas de mansidão e de alegria nas obrigações que nos compete cumprir como pais, trabalhadores, estudantes, políticos, catequistas, animadores da comunidade, etc.

Piedade: é o dom de Deus que nos faz descobrir o coração de Deus que nos ama profundamente. Também nos convida a entregar-Lhe o nosso e envia-nos aos irmãos que mais necessitam da nossa consolação. É o dom da Misericórdia.

Temor de Deus: este dom faz-nos reconhecer, humildemente, que Deus é sempre maior que tudo o que podemos imaginar e impele-nos a respeitá-l'O e a amá-l'O como nosso Pai.
Todos nós recebemos um ou mais dons para os partilhar na comunidade. Agir de outro modo, seria provar o Povo de Deus de algum serviço. Devemos receber estes dons ou carismas com acção de graças, sabendo que são ofertas que nos comprometem e que o Espírito dá a quem quer, quando e como quer.
Pois bem, os carismas e dons do Espírito são dados para a edificação da Igreja; compete à própria Igreja pronunciar-se sobre a sua autenticidade.


Oração:
Pai bondoso, derrama o teu Espírito sobre nós e faz-nos generosos no serviço dos outros. Que não nos fechemos nos nossos egoísmos para que, pelo nosso testemunho, em toda a surjam e progridam comunidades que sirvam e vivam como o Teu Filho Jesus Cristo. Amen.

Arnaldo Vareiro

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