sábado, 12 de setembro de 2009

RECONHECER A JESUS, O CRISTO

1. O episódio do evangelho deste Domingo ocupa um lugar central e decisivo no relato de Marcos. Há já algum tempo que os discípulos convivem com Jesus. É chegado o momento de se pronunciarem com clareza. A quem seguem? O que descobrem em Jesus? O que captam na Sua vida, na Sua mensagem e no Seu projecto?
2. Desde que se uniram a Ele, vivem interrogando-se sobre a Sua identidade. O que mais os surpreende é a autoridade com que fala, a força com que cura os enfermos e o amor com que oferece o perdão de Deus aos pecadores. Quem é este homem em quem sentem tão presente e tão próximo o Deus Amigo da vida e do perdão?
3. Entre as pessoas que não convivem com Jesus corre toda a espécie de rumores, mas a Jesus interessa-Lhe a posição dos seus discípulos: "E vós, quem dizeis que Eu sou?".
4. Não basta que entre eles haja opiniões diferentes mais ou menos acertadas. É fundamental que os que se comprometeram com a Sua causa, reconheçam o mistério que se encerra Nele. Se não é assim, quem manterá viva a Sua mensagem? O que será do Seu projecto do reino de Deus? Que destino terá aquele grupo que Ele está a pôr em marcha?
5. Mas a questão é vital também para os seus discípulos. Afecta-os radicalmente. Não é possível seguir Jesus de forma inconsciente e ligeira. Têm que conhecê-Lo cada vez mais na interioridade. Pedro, recolhendo as experiências que têm vivido com Ele até àquele momento, responde em nome de todos: "Tu és o Messias!". 
6. Todavia, a confissão de Pedro e limitada. Os discípulos ainda não conhecem a crucifixão de Jesus nas mãos dos seus adversários. Não podem nem suspeitar que será ressuscitado pelo Pai como Filho amado. Não conhecem experiências que lhes permitam captar tudo o que se encerra em Jesus. Somente seguindo-O de perto irão descobri-Lo com fé crescente.
7. Para os cristãos, é vital reconhecer e confessar cada vez com mais profundidade o mistério de Jesus o Cristo. Se ignoramos Cristo, a Igreja vive ignorando-se a si mesma. Se não O conhece, não pode conhecer o mais essencial e decisivo da sua tarefa e missão. Mas, para conhecer e confessar a Jesus Cristo não basta encher a nossa boca com títulos cristológicos admiráveis. É necessário segui-Lo de perto e colaborar com Ele dia a dia. Esta é a principal tarefa que temos de promover nos grupos e comunidades cristãs.

Arnaldo Vareiro

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CURAR A NOSSA SURDEZ

1. Os profetas de Israel usavam com frequência a "surdez" como uma metáfora provocativa para falar do fechamento e da resistência do povo ao seu Deus. Israel "tem ouvidos mas não ouve" o que Deus lhe está a dizer! Por isso, um profeta chama todos à conversão com estas palavras: "Surdos, escutai e ouvi!".
2. Neste sentido, as curas dos surdos, narradas pelos evangelistas, podem ser lidas como "relatos de conversão" que nos convidam a deixarmo-nos curar por Jesus da surdez e resistências que nos impedem escutar a Sua chamada ao seguimento. Em concreto, Marcos oferece no seu relato matizes muito sugestivas para trabalhar esta conversão nas comunidades cristãs.
3. O surdo vive alheio a todos. Não parece ter consciência do seu estado. Não faz nada para se aproximar de quem o pode curar. Teve a sorte de uns amigos se interessarem por ele e levá-lo até Jesus. Assim deverá ser a comunidade cristã: um grupo de irmãos e irmãs que se ajudam mutuamente para viver à volta de Jesus, deixando-se curar por Ele!
4. A cura da surdez não é fácil. Jesus toma consigo o enfermo, retira-se para o lado e concentra-se nele. É necessário o recolhimento e a relação pessoal. Necessitamos nos nossos grupos cristãos de um clima que permita um contacto mais íntimo e vital dos crentes com Jesus. A fé em Jesus Cristo nasce e cresce nessa relação com Ele.
5. Jesus trabalha intensamente os ouvidos e a língua do enfermo, mas não basta. É necessário que o mudo colabore. Por isso, Jesus, depois de levantar os olhos ao céu, procurando que o Pai se associe ao seu trabalho libertador, grita ao enfermo a primeira palavra que tem de estremecer quem vive surdo a Jesus e ao Seu Evangelho: "Abre-te!". 
6. É urgente que nós cristãos escutemos também hoje esta chamada de Jesus. Não são momentos fáceis estes que atravessamos para a Sua Igreja! É-nos pedido que actuemos com lucidez e responsabilidade. Seria funesto viver hoje surdos à Sua chamada, fechar os ouvidos às Suas palavras de Vida, não escutar a Sua Boa Nova, não captar os sinais dos tempos, viver encerrados na nossa surdez! A força libertadora de Jesus pode curar-nos!

Arnaldo Vareiro