segunda-feira, 19 de abril de 2010

TESTEMUNHO QUE CHAMA

 Celebramos, no próximo dia 25 de Abril, Domingo do Bom Pastor, a 47ª Semana de Oração pelas Vocações. Na sua mensagem para este dia, o Papa Bento XVI convida “os presbíteros, os religiosos e religiosas a serem fiéis à sua vocação, ajudando todos os cristãos a responderem à sua vocação universal à santidade”. O testemunho suscita vocações! O testemunho quotidiano e concreto de uma vida totalmente doada a Deus, na fidelidade e na alegria, impressionará e suscitará tantos homens e mulheres a experimentarem o dom da vocação. Assim o fez São João Maria Vianney no contacto com os seus paroquianos e com aqueles que procuravam os seus conselhos de pastor e guia. Todo o cristão é um ser vocacionado: em primeiro lugar, à Vida, depois, à vida de filho de Deus pelo Baptismo, levando este dom à perfeição através da vocação presbiteral, religiosa, matrimonial ou celibatária. Ser vocacionado é escutar, em cada época e em cada história, a voz de Deus, que Se comunica que variadíssimas formas. Quero, neste mês essencialmente vocacional, mostrar, caro leitor, como o Cura d' Ars ensinava com o testemunho da sua vida os fiéis a aproximarem-se mais de Deus e a serem interpelados por Ele; como o Santo era mediador entre o Senhor que chama e aquele ou aquela que sentia interpelado(a).

Contam os seus registos biográficos que, no ano de 1836, o casal Millet, de Mâcon, resolveu passar alguns dias em Ars para poderem estar com o Santo Cura d' Ars. Com efeito, puderam falar-lhe. Mas a filha Luísa Colomba, que tinha ido com eles, não queria de modo algum entrevistar-se com o servo de Deus. Não obstante, era boa e piedosa. Os peregrinos estavam prestes a sair de Ars, após uma semana de permanência naquele povoado. Foram pela última vez à igreja, quando o P. Vianney passava para a sacristia. Guiado por uma intuição sobrenatural, lançou à multidão um olhar penetrante e fez sinal com o breviário a Luísa Millet. Ela compreendeu logo. Tinha que se render. A multidão abriu-lhe passagem e com um gesto o Santo apontou-lhe o confessionário. A jovem ajoelhou-se. Depois de uma breve conferência, ouviu a palavra que iria orientar toda a sua vida. “Minha filha, serás religiosa visitandina. Deus o quer... Deus o quer”. A penitente resistiu. Mas o Cura d' Ars repetiu pela terceira vez: “Minha filha, Deus o quer”. As dificuldades que tinha a vencer pareciam insuperáveis. Todas se aplanaram por si mesmas. E Luísa Colomba, livre de todos os liames, levantou o voo para a arca santa. Morreu no mosteiro em 20 de Agosto de 1908, cheia de méritos, com a idade de 89 anos e com 64 de profissão religiosa.

Outro exemplo. “Meu padre, perguntava-lhe um sacerdote ajoelhado aos seus pés, hei-de alimentar em mim os desejos da vida religiosa, que sinto tão vivamente desde o segundo ano que estive no seminário maior, ou seja já aos vinte anos?” Respondeu-lhe o Cura d' Ars sem rodeios: “Sim, meu amigo, este pensamento vem de Deus; é preciso cultivá-lo.

  • Nesse caso, meu Padre, permitir-me-á deixar o cargo que ocupo (este sacerdote era professor num seminário menor) e entrar para uma ordem religiosa? Que acha melhor?

  • Devagar, meu amigo. Fique onde está. Saiba que Deus manda, às vezes, bons desejos, cuja realização nunca exigirá neste mundo”.

O P. Vianney, às pessoas casadas, fazia-lhes ver a grandeza da sua vocação, exortando-as a cumprirem santamente as suas obrigações. Uma senhora, que já tivera muitos filhos, ia ficar mãe novamente. Foi buscar coragem junto do Cura d' Ars. Não precisou de esperar muito, pois o Santo chamou-a de entre a multidão.

  • Estás tão triste, minha filha - observou-lhe quando se ajoelhou no confessionário.

  • Ah! Sim, já estou tão velha, meu Padre!

  • Ânimo! Não te assustes com o fardo! Nosso Senhor carrega-o contigo. O que Deus faz é bem feito. Quando concede a uma mãe muitos filhos, é sinal de que a julga digna de educá-los. É da parte d' Ele prova de confiança.


Estes três exemplos mostram-nos como São João Maria Vianney era um instrumento do qual Deus se servia para chamar, para guiar os homens no caminho da sua história. A santidade da sua vida e a sua prudência sobrenatural nas decisões inspiravam às almas justas uma confiança sem limites. Ser vocacionado é perscrutar em cada dia a voz e o sopro do Espírito; é testemunhar que vale a pena aspirar ao Mais!

Nunca esqueçamos de rezar pelas vocações! Confiemos à Senhora do Sameiro, Mãe do Sim, todos aqueles que se sentem chamados e inquietados por Deus para que saibam acolher, em cada dia, o que Deus quer!


Arnaldo Vareiro