terça-feira, 6 de outubro de 2009

NO COLO DA MÃE

João Maria Vianney veio ao mundo por volta da meia-noite a 8 de Maio de 1786, sendo baptizado neste mesmo dia. Era o quarto de seis irmãos com que Deus tinha abençoado a união de Mateus Vianney e Maria Beluse, casal de uma fé operante e esclarecida. Nas coisas de piedade foi um menino precoce, pois já com 18 meses, quando a família se reunia para a oração da noite, ajoelhava-se por sua própria inicativa entre os demais, juntando as mãozinhas com devoção. A sua mãe desde muito cedo falava-lhe no Menino Jesus, na Santíssima Virgem e no Anjo da Guarda, o que João ia guardando no coração, o qual Deus ia ornando com as suas graças! À medida que crescia em estatura ia crescendo nele também o desejo de saber mais sobre os mistérios de Jesus, ouvindo a mãe a contar a História Sagrada.

O pequeno João era muito alegre e brincalhão quando ia com o pai e os seus irmãos para o campo montados num burrico; era ele quem animava os jogos. Era um rapazinho de olhos azuis, cabelo escuro, tez morena e olhar vivo. Não era, ao que contrariamente se diz, uma criança singular, mas tinha um carácter muito vincado, chegando a ser muitas vezes de temperamento nervoso. Mas, desde cedo, o pequenito foi fazendo um esforço para adquirir a perfeita doçura; bem adivinhava que era esse o caminho que conduzia à santidade!

Desde pequeno nutria um forte e intenso amor às duas mães: à da terra e à do céu! João Maria possuía um lindo rosário, que tinha em grande estima. Gothon, uma das suas irmãs mais novas, achou-o também do seu agrado. Naturalmente qui-lo logo para si. Deu-se uma cena violenta entre irmão e irmã: gritos, empurrões e ameaças de pugilato. O pobre menino, todo amargurado, correu para junto da mãe. “Meu filho, dá o teu rosário à Gothon, - disse-lhe ela com voz branda, mas firme… sim, dá-lho por amor de Deus”. Imediatamente João Maria, soluçando, entregou o rosário, que assim mudou de dono. Para uma criança de quatro anos era um belo sacrifício! A fim de lhe enxugar as lágrimas, a mãe, em vez de carícias e mimos, deu-lhe uma pequena imagem de madeira que representava a Virgem Santíssima. Aquela tosca imagem tinha-a contemplado, muitas vezes, sobre a estufa na cozinha, desejoso de a possuir.

Agora era dele, toda dele! “Oh! Quanto eu amava aquela imagem – dir-nos-á 70 anos mais tarde. Não podia separar-me dela, nem de dia, nem de noite e não dormia tranquilo, sem tê-la na cama a meu lado… A Santíssima Virgem é a minha mais antiga afeição; amei-a mesmo antes de a conhecer”.

Ajoelhava-se com fervor ao toque do Angelus. Às vezes retirava-se para um canto, punha sobre uma cadeira a sua querida imagem e orava diante dela com grande recolhimento. A cada hora que soava persignava-se e rezava uma Avé-Maria.

Embora fosse privilegiado da graça divina, João Maria não deixava de fazer as suas traquinices. Uma tarde, quando contava uns 4 anos, João Maria saiu sem dizer nada a ninguém. A mãe deu pela falta. Chamou-o. Escutou. Nem resposta. Procurou ansiosa, no pátio, atrás dos montes de lenha e de feno. O menino não aparecia. Ele que sempre respondia à primeira chamada!

Enquanto se dirigia ao estábulo, onde se poderia ter escondido, a mãe pensava no poço escuro e profundo em que bebiam os animais.

Mas a quem haveria de descobrir num canto escuro, ajoelhado entre dois animais que ruminavam pachorrentamente? O inocente, que rezava com fervor, de mãos postas, diante da imagem da Virgem. Maria Vianney tomou-o nos braços e apertou-o ao coração. “Oh! Meu filho, tu estavas aqui – disse-lhe ela com voz trémula pelo pranto. Porque te escondeste para rezar? Tu bem sabes que nós rezamos juntos.”

O menino não via outra coisa senão a mágoa causada à mãe. “Perdão, mamã, eu não sabia… não farei mais! – gemia ele abandonando-se nos braços maternos.

Estamos no Mês de Outubro, mês dedicado tradicionalmente à Mãe do Rosário, à Mãe que quer que os seus filhos lhe ofereçam flores através da oração do rosário, revivendo os mistérios do Seu Filho Jesus. Como devemos imitar o pequenito João Maria neste amor e entrega total no colo da Mãe! Ela busca-nos sempre quando nos afastamos para rezar sozinhos, isto é, quando nos fechamos nas nossas angústias, nas situações menos risonhas da vida e pensamos que temos soluções mágicas para tudo; Ela vem-nos buscar quando estamos junto do “poço” da tristeza, do desespero, da infelicidade, da doença, pega-nos ao colo, afaga o nosso rosto, aperta-nos ao coração e coloca-nos de novo no Seu regaço para, nele, sentirmos a ternura e o amor de Deus. É a Mãe que nos ensina a aproximarmo-nos de Deus e a encontrá-Lo!

Mais tarde, quando felicitavam o Cura d’Ars por ter adquirido tão cedo o gosto pela oração e pelo altar, respondia com emoção e lágrimas: “Depois de Deus, devo à minha mãe. Era tão boa! A virtude passa facilmente do coração das mães para o coração dos filhos… Jamais um filho que teve a dita de ter uma boa mãe deveria vê-la, ou pensar nela sem chorar”.

S. João Maria Vianney propõe-nos, neste Ano Sacerdotal e neste Mês de Rosário, a estar mais perto do coração da Mãe para que Ela encha o nosso pobre coração das Suas virtudes, especialmente a da docilidade à Palavra de Deus que vem continuamente ao nosso encontro! Caminha connosco, Mãe!


Arnaldo Vareiro


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